Soro caseiro: como fazer e para que serve

A desidratação causada por gastroenterite ainda é uma das principais causas de morte, especialmente nos países mais pobres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, cerca de 3 milhões de crianças ainda morrem por complicações causadas pela diarreia. Mas não só as crianças que estão em risco, a diarreia também causa complicações em pacientes idosos, sendo uma das principais causas de internação nessa faixa etária.

Neste artigo vamos explicar para que serve o soro caseiro, quando deve ser usado e como é preparado. Explicaremos também porque atualmente a OMS e os Ministérios da Saúde de vários países do mundo indicam o uso de soluções de reidratação oral ao invés do soro caseiro.

Por muitos anos, o soro caseiro tem sido a solução mais adequada para o tratamento da desidratação causada pela diarreia aguda.

Quando um paciente tem diarreia e/ou vômito, ele se desidrata porque perde um grande volume de água. Mas essa perda não é água pura, junto com a água há perda de vários eletrólitos (minerais), como potássio, sódio e bicarbonato. Portanto, a reposição ideal deve ser feita com água e eletrólitos para evitar que o paciente desenvolva alterações hidrolíticas graves, como hiponatremia (baixo teor de sódio no sangue), hipocalemia (baixo teor de potássio no sangue) ou acidose metabólica (acidez sanguínea).

Por isso, o soro caseiro, que contém cloreto de sódio (sal) e glicose (açúcar), é uma fórmula mais adequada que a água pura para repor as perdas causadas pela diarreia.

Apesar da diarreia, a capacidade intestinal de absorver glicose e minerais, especialmente sódio, geralmente está intacta nos pacientes. Portanto, mesmo que o paciente continue tendo episódios de diarreia, os componentes do soro caseiro continuam sendo absorvidos pelo intestino.

Cerca de 95% dos casos de diarreia podem ser tratados apenas com hidratação oral. Apenas 5% dos pacientes necessitam de internação hospitalar para administração intravenosa intravenosa.

O soro caseiro é uma solução composta por 3,5 gramas de sal + 20 gramas de açúcar diluído em 1 litro de água filtrada ou pré-fervida. Na prática, isso significa 1 colher de chá de sal + 1 colher de açúcar.

O problema com esta forma de preparação caseira de soro é a frequência com que a solução é preparada com as quantidades erradas, seja sal ou açúcar. Ao usar colheres comuns de cozinha, a quantidade de sal e açúcar acaba variando muito, dependendo de quem vai preparar o soro.

Para evitar tais erros de preparo, existem colheres padrão recomendadas pelo UNICEF, conforme exemplificado na imagem abaixo. Esta colher com as medidas certas pode ser adquirida em farmácias populares ou postos de saúde. Nesse caso, basta misturar 1 medida rasa de sal e duas medidas rasas de açúcar em 200 mL de água para que o soro fique com as concentrações mais próximas do recomendado pelo Ministério da Saúde e pela OMS.

É importante estar ciente da quantidade de água. Se for usar as colheres comuns de cozinha, a quantidade de água é de 1 litro. Se você tiver a colher padrão para preparar o soro, a quantidade de água é de 200 mL.

A validade do soro caseiro é de 24 horas.

O soro deve ser tomado ao longo do dia em doses pequenas, mas frequentes, para evitar o inchaço rápido do estômago, estimulando o reflexo do vômito. Existem várias maneiras de calcular a taxa de administração de soro caseiro. Vamos sugerir algumas opções:

Dependendo da gravidade da diarreia, esses valores podem ser adaptados. O objetivo é tentar ingerir pelo menos a mesma quantidade de líquido que foi perdida na diarreia e vômito. Isso nem sempre é facilmente estimado. Então a sensação de sede pode ser uma boa dica. O paciente deve se hidratar para não ter sede, nem ficar com a boca seca.

Outra forma de controlar indiretamente o estado de hidratação é através da urina. Pacientes desidratados apresentam urina de cor mais concentrada, com odor mais forte e com pouco volume. Se você tiver vários episódios de diarreia e perceber que quase não urina, a reposição de líquidos deve ser aumentada.

O soro caseiro é uma solução que contém apenas cloreto de sódio e glicose. Além disso, por ser preparado em casa, erros de dosagem são comuns. Por isso, nos últimos anos, a OMS tem indicado o uso de soluções de reidratação oral, que são pequenos sachês contendo cloreto de sódio, glicose, potássio e citrato em pó em quantidades mais adequadas.

Além de ser uma formulação mais completa em termos de sais minerais, a solução de reidratação oral vem em embalagens com quantidade já determinada, bastando diluir o conteúdo dos sachês em 1 litro de água limpa (fervida ou filtrada). Desta forma, o risco de a solução conter quantidades erradas de sais minerais é minimizado.

A solução de reidratação oral é fornecida gratuitamente em postos de saúde e em farmácias populares. Existem também fórmulas comerciais que podem ser adquiridas em farmácias, como Rehidrat, Hidrafix ou Pedialyte.

Refrigerantes e sucos de frutas, principalmente industrializados, são bebidas com alto teor de açúcar. Muito açúcar pode agravar a diarreia. Além disso, essas bebidas possuem baixo teor de sódio, o que pode causar hiponatremia se consumido em grande quantidade.

Em casos de diarreia leve, sem sinais claros de desidratação, sucos naturais (sem adição de açúcar) e chás (que não possuem ação diurética) podem ser uma opção válida para hidratar o paciente.

Bebidas isotônicas ou esportivas, como Gatorade, também não são o tipo de líquido mais indicado para reidratação em caso de diarreia mais grave, mas podem ser usadas em diarreia leve em que o paciente está em bom estado geral.